domingo, 25 de março de 2012

Correspondente Suicídio - sexta às 6

     Convocado pelo V&M para troca de informações, o Correspondente Suícidio fala de como anda a cena em cidades paranaenses, mostrando que nem só em Curitiba as pessoas andam Vivendo & Morrendo.



    "Em minha estádia em Ponta Grossa passei por vários lugares musicais, e conheci todo tipo de louco musical que se conhece em outras cidades. Há o Bola 13, lugar conhecido por dar espaço a bandas novas, mas eu quero falar sobre a minha primeira experiência com o evento ''sexta às 6'' que ocorre no terminal central...

    Fiquei nesse tal ''sexta às 6'' do terminal até muito além das 6 horas, para isso matei aula de latim, o que para alguém como eu, um tarado por se masturbar intelectualmente mesmo sem conseguir gozar, é um pecado. 
No fundo não posso sair dizendo que valeu a pena, mas ''valeu a pena'' é a frase que se espera após um comentário como esse, sobretudo quando você gostou do que viu, após reunião com o Lenon(sim eu tenho um amigo com esse nome) e exaltação dos sinos de Hemingway na biblioteca, caminhada com o Bruninho, baixinho, semi-metaleiro de 16 anos, conversa com um alcoólatra carismático e naturalmente triste, conheci esse tal de Sorveteiro gaitista, bluesman, rei do ponto (em termos de respeito e carisma) me pediu para pegar uma corda ré em seu case com violão caro dentro para colocar essa corda no violao carregado pelo Bruninho. 
Esse Sorveteiro tem aparência de cara musical cheio de amigos, ele soa quase como um Neal Cassady, estrangeiro-europeu-operário que não se deixa vencer pelo trabalho e pode agüentar muita briga sem procurá-las, aguenta por companheirismo. Cabelo enrolado crescendinho quase como John Lenon no início misturado com Dylan e Steve dos Pistols. Essa é a aparência de sua 'aura' social interpretada por mim.

 Essa sexta às 6 é o big point não muito por causa das bandas que tocam sucessos digeríveis, mas pelo espírito grupal de gente que quer ver gente bebendo e beber junto, flertar, fumar, musicalizar e filosofar. Bom espírito de grupo, bom espírito musical principalmente quando a banda de sucessos populares rockeirizados retira seus instrumentos do palco e vai embora, os sons de amplificadores de longo alcance morrem e temos espaço sonoro para os violões no nosso canto. Aí as gaitas fervem e vozes acompanham o blues ventaneizado. Em certo momento encontro o Costa tendo seu cabelo repicado gratuitamente por uma menina. Um lugar musical onde até cabelos são cortados ao ar livre informalmente. Essa não é a parte grossa da Ponta Grossa, mas tudo indica que é a parte afiada.

    Esse lugar está cheio de elementos subterrâneozados culturalmente atraentes pra caralho. Esqueça um pouco a Vila Velha, esqueça o Buraco do Padre furado pela Ponta Grossa, esqueça lugares enfeitados e perfumados como a casa de shows chamada Empório. Vá aonde tem gente com música espontânea! E posso dizer, ESSA CIDADE TEM GENTE COM MÚSICA DE VERDADE NO SANGUE, NA ALMA, NAS UNHAS, NO CABELO DO SOVACO, DE  ALGUM LUGAR AQUI SE EXPREMER SEMPRE SAI MÚSICA.

    Convites feitos por gente interessada, interessante e empolgada para uma jam em estúdio são muito freqüentes por aqui, realmente são. Aqui uma jam nasce facilmente na rua e desemboca no estúdio. Inclusive daqui a umas duas horas vou encontrar o Costa, baterista multi-instrumentista e o Bruno Regis guitarrista de alto padrão criativo sem exibicionismo, para tocar em um estúdio na avenida Munchen e encher a cara empolgadamente feliz e repetir aquele mesmo processo de bebedeira responsável por idéias na cabeça de quem bebe e conversa. Esse processo, leitor, você conhece muito bem, se você agüentou ler até aqui eu quero te conhecer, eu quero beber com você, se você toca alguma coisa, eu te convido: venha para Ponta Grossa! "

- Giordano Bruno